A vida secreta das trufas V

Elas não apenas servem aos gourmets, mas desempenham papel essencial na saúde dos ecossistemas

Pensando no futuro, os cultivadores poderiam possivelmente aumentar sua renda se substituíssem as trufas gourmet pelas Rhizopogon. As fazendas de pinheiros natalinos, na área noroeste do Pacífi co, por exemplo, também poderiam produzir deliciosas trufas brancas do Oregon, Tuber gibbosum. Entretanto, até agora, as tentativas de inocular as árvores com essa espécie de trufas produziram resultados inconsistentes. Enquanto isso, um dos autores, Claridge, vinha usando as trufas para ajudar a determinar o tamanho das populações de animais ameaçados de extinção no sudeste da Austrália – prerrequisito para desenvolver programas efi cientes de proteção ou recuperação dessas espécies. Utilizando almofadas de espuma embebidas em azeite com compostos aromáticos da trufa negra europeia de Périgord (a predileta dos seres humanos), atraiu os potorus e outros marsupiais que adoram trufas para as estações onde são fotografados por câmeras digitais sensíveis ao movimento. Essa abordagem lhe permitiu detectar 50 vezes mais desses animais que os contados pelo método tradicional de armadilha de gaiola.

Se as taxas de sucesso são tão altas assim com o azeite importado de trufas, utilizado por ser mais fácil de comprar, quais seriam os resultados se no teste fosse usado o aroma das trufas australianas ativas? A resposta a essa questão é prioridade essencial para a equipe. Com o intuito de proteger esses marsupiais ameaçados e outros animais que comem trufas regularmente, os conservacionistas terão de assegurar a disponibilidade de seu alimento. Esse arranjo se aplica não apenas aos animais que dependem diretamente das trufas, como também aos seus predadores. Dessa forma, restaurar o hábitat da ameaçada coruja Strix accidentalis caurina, no noroeste do Pacífi co, significa atender às necessidades da presa primária dessa ave, ou seja, o esquilo-voador-do-norte, que se alimenta principalmente de trufas.

Domesticação das Trufas

Embora em décadas recentes pesquisadores tenham aprendido muito sobre a ecologia das trufas, a ciência de seu plantio pouco mudou desde os anos 60, quando os cientistas franceses desenvolveram uma técnica de estufa para adicionar esporos da trufa negra de Périgord ao composto de mudas de carvalho e de aveleiras, que mais tarde foram transportadas para áreas adequadas para formar as plantações de trufas, ou truffières. Em condições ideais, as truffières podem chegar a produzir uma safra em quatro a cinco anos. Nos anos 80, após inúmeras tentativas frustradas, truffières semelhantes foram afinal estabelecidas nos Estados Unidos. Atualmente, o plantador de trufas mais produtivo da América do Norte é Tom Michaels, da Tennessee Truffles. Ex-aluno de Trappe, Michaels produziu a impressionante quantidade de 100 quilos de trufas de Périgord na safra 2008-2009. Para obter esses resultados, ele cuida bem do solo, adicionando calcário o ano todo para mantê-lo friável e bem drenado. Nova Zelândia e Austrália também obtiveram sucesso no cultivo de trufas de Périgord. Em franco contraste com os sucessos do plantio das trufas de Périgord, os esforços para cultivar a espécie de trufas mais valorizada – a trufa branca italiana, que Mirko e Clinto procuravam e tem aroma especialmente intenso – falharam. Por razões que permanecem desconhecidas, essa espécie simplesmente se recusa a crescer em estufa. Por isso, o seqüenciamento de seu genoma, já quase concluído, poderia fornecer indícios para fazer a rainha das trufas crescer sob comando. Ao mesmo tempo, as trufas podem se tornar predominantes mesmo sem seu cultivo: conforme a terra aquece, os hábitats mais quentes e mais secos, dos quais elas se favorecem, vão se espalhar, preparando o cenário para aumento de produção e evolução acelerada. Assim, a mudança climática pode trazer benefício para alguns: mais trufas para os homens e para os animais.
 

Fonte: Scientific American

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